Para ler ouvindo Simonal

CanStock Photo – banco de imagens

Vamos voltar a pilantragem!!!!

Encaixo o soco.

Empurro forte.

Dou um braço e meio de distancia do meu pai.

Mostro os dentes, misto de sorriso com raiva.

Jeito bom de se sofrer.

Nem Vem Que Não Tem /

Nem vem de garfo / Que hoje é dia de sopa /

Ele vem como um polvo maluco. Saio de lado e aplico uma gravata

— Ela falou que meu pau é muito maior!!!

Gemedeira.

Eu nesse embalo / Vou botar prá quebrar /

Sacudim, sacundá / Sacundim, gundim, gundá!… /

Nem vem que não tem

Jogo para cima da mesinha de centro.

Caiu com o barrigão

— De noite, na cama, ela pensa em mim!!

Embrulhadeira.

Numa casa de caboclo / Já disseram um é pouco /

 Dois é bom, três é demais / Nem Vem!

Contar que é corno da amante: emputece.

— E na verdade, na minha idade, nunca vi uma coroa querer tanto assim!!!

Silêncio

— Eu vou lhe dar uma pala e vai ter que aprender: A tonga da mironga do kabuletê.

Guarda teu lugar na fila /

Todo homem que vacila / A mulher passa prá trás… /

nem vem que não tem

Avança.

Jogo de corpo.

Ele beija a parede.

Nem vem que não tem /

prá virar cinza / minha brasa demora

Vem para cima.

No balanço zona sul: os murros vão para o vazio.

Outra gravata.

Ao pé do ouvido.

— Ela diz que a mamãe passou açúcar em mim!!!!!!

Pula. Seguro

Mordo a orelha

— Toma cuidado com mangangá

Solto

Ele cai.

Zazueira. Fica tentando me chutar na galha do cajueiro.

Levanta.

— Fora de minha casa!!!

Michô meu papo / mas já vamos’imbora /

eu nesse embalo /vou botar prá quebrar/

sacudim, sacundá sacundim, gundim, gundá!…/

nem vem!

O cinzeiro da mesa passa a dois dedos de minha cabeça.

Sobre Plínio Camillo

Nasci em 26 de novembro de 1960. Aos três anos descobri que as letras tinham significados. Aos cinco, a interrogação. Aos nove, não era sintético. Aos 12, quis ser espacial. Aos 15, conquistei a exclamação. Aos 17 vi os morfemas. Aos 20 estava no palco. Aos 22 me vi como um advérbio. Aos 25 desenredei a Lingüística. Aos 27 redescobri as reticências. Aos 30, a juventude. Aos 35 recebi o maior presente: Beatriz Camillo, aquela que me trouxe a felicidade. Aos 40 desvendei uma ligeira maturidade. Aos 41 voltei para Sampa!!!. Aos 45, recebi o prazer de viver em companhia. Aos 50 anos, uso óculos até para atender telefone. Hoje: escrevo.

Um Comentário

  1. “Se aquieta mangagá!” A pilantragem está de volta. É isso aí, Plínio!

  2. Delícia de texto ao som de Simonal. Pilantragem da boa!

  3. Lucelia Cardoso Lima

    Gostei! Bacana mesmo!!

  4. Que beleza de cena, hein? Parabéns!

  5. Esse é um dos que mais gosto. Sabia?
    A gente consegue acompanhar cada movimento… E ainda sai dançando…
    sacudim, sacundá…

  6. Tua narrativa construída de diálogos é sempre inovadora. Mas este paralelo da ficção com o samba se superou. Impossível não dançar junto com a leitura…rs

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